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  • Foto do escritorC.B.

Uma viagem nos passos de Jorge Amado

Dentre todos os nossos sonhos, há aqueles que a gente traz no coração faz um tempo. Aqueles que temos a certeza de que, por mais tempo que demore, um dia vão acontecer.

O meu maior desejo seria visitar aquela parte do Brasil que só conheci através das obras de Jorge Amado.

Então, para a minha primeira vez no Brasil, eu escolheria o estado da Bahia, que roubou meu coração com as suas contradições visíveis onde a pobreza econômica destoa da riqueza cultural e natural.

Na verdade, não sei se eu faria a viagem sozinha ou com alguém, mas não é fácil encontrar quem partilhe das minhas paixões, especialmente porque não é um roteiro típico de viagem no Brasil.

Gostaria de refazer os passos do grande escritor baiano através dos lugares símbolo de sua vida: Itabuna seria a primeira parada, depois Ilhéus e por último Salvador.




Jorge Amado nasceu na Fazenda Auricídia, em Ferradas, hoje município de Itabuna, no sul da Bahia. A Catedral de São José, que representa o lugar símbolo da cidade, tem duas curiosidades: o altar em forma de uma canoa e uma única torre concluída (não somente por falta de dinheiro para construí-la, mas também porque isso implicaria em mais impostos).




O escritor passou sua infância na vizinha Ilhéus, velha capital do cacau. Dizem que você tem a sensação de mergulhar nas atmosferas dos livros de Amado e que as suas personagens podem aparecer de um momento para outro enquanto você está sentado no bar Vesúvio.




O bar tinha uma porta de conexão direta com a casa noturna e bordel Bataclan. Então, ao redor da Praça Dom Eduardo, havia os prazeres da boa mesa (Bar Vesúvio), da carne (Cabaré Bataclan) e do espírito (Catedral de São Sebastião, imponente catedral símbolo da cidade com sua fachada em estilo neoclássico).



Salvador seria a última parada da minha viagem. No livro “Bahia de Todos-os-Santos - Guia das ruas e dos mistérios da cidade do Salvador”, Jorge Amado fez um retrato autêntico de uma cidade única nas suas belezas arquitetônicas e encantos naturais, bem como tratou de seu lado miserável. Como ele mesmo cita no livro:

“Esse é bem um estranho guia. Com ele não verás apenas a casca amarela e linda da laranja. Verás igualmente os gomos podres que repugnam ao paladar”.

“A Bahia te espera para sua festa mais quotidiana. Teus olhos se encharcarão de pitoresco, mas se entristecerão também ante a miséria que sobra nestas ruas coloniais onde começam a subir, magros e feios, os arranha-céus modernos”.

Então, quem melhor que Jorge Amado para conhecer a verdadeira alma da cidade?

Há uma imagem do bairro do Pelourinho esculpida na minha mente onde as fachadas das casas pintadas em cores maravilhosas alternam-se com os campanários das catedrais barrocas que parecem furar o céu azul.



Em Salvador, também conhecida como “Roma negra” por ser a cidade mais negra do Brasil, tudo fala da colonização e do terrível período da escravidão, a começar pelas pedras com forma ovalada chamadas de “cabeça de nego” que serviam de lastro para navios negreiros e, após a chegada das embarcações, eram levadas para fazer calçamento, literalmente, na cabeça dos escravizados.

Na minha opinião, em toda viagem que se respeite, a cozinha é um aspecto essencial da cultura de um povo e, felizmente, Jorge Amado pensava o mesmo. Ninguém como ele soube contar e valorizar o autêntico espírito baiano.

Ler Jorge Amado é uma experiência gastronômica! Ele nos faz experimentar todos os sabores da Bahia através de sua escrita. Não é por acaso que no famoso livro “Dona Flor e Seus Dois Maridos” cada capítulo é introduzido por uma aula de cozinha ministrada por Dona Flor. Paloma Jorge Amado, filha do escritor, escreveu inúmeros livros sobre o assunto e, sem dúvida, o mais conhecido é “A comida baiana de Jorge Amado”, onde ela explica cada receita de uma maneira super fácil, segundo o método da panelinha.



Eu li que, se Jorge Amado ainda fosse vivo, ele jantaria um banquete composto por arroz hauçá, sarapatel, frigideira de siri catado, acarajé e doce de puta (doce de banana). Então, para homenageá-lo, gostaria de saborear exatamente estes pratos.

Talvez, o melhor momento para visitar a cidade fosse durante a Flipelô - Feira Literária Internacional do Pelourinho que visa preservar a memória e o legado do escritor Jorge Amado desde a sua primeira edição, em 2017 (https://flipelo.com.br/).

Não sei se vou conseguir fazer essa viagem um dia, mas até imaginá-la me enche de alegria porque encoraja-me a sonhar e pesquisar. De uma forma ou de outra, me enriquecerá! Quem sabe o que o futuro vai me reservar...

Até lá, a música “A Bahia te espera” cantada pela maravilhosa Maria Bethânia vai me inspirar:


A Bahia da magia Dos feitiços e da fé Bahia que tem tanta igreja Que tem tanto candomblé

Para te buscar Nossos saveiros já partiram para o mar Iá iá, Eufrasia ladeira do sobradão 'Tá preparando seu candomblé Velha Damasia da ladeira do mamão Tá preparando o acarajé

Para te buscar Nossos saveiros já partiram para o mar Nossas morenas roupas novas vão botar Se tu vieres irás provar o meu vatapá Se tu vieres viverás nos meus braços A festa de Iemanjá

Vem, vem, vem Vem em busca da Bahia Cidade da tentação Onde meu feitiço impera Vem Se me trazes o teu coração Vem que a Bahia te espera Bahia Bahia Bahia Bahia


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