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Quando o direito do outro me incomoda

Atualizado: 13 de set.

Reflexões sobre incômodos legítimos e a arte de conviver


   Às vezes, o que nos incomoda está dentro do direito do outro: um bebê que chora à noite; um vizinho que canta desafinado no banho; um cheiro forte de tempero vindo do apartamento abaixo...

  Nem sempre o que incomoda é um erro. Às vezes, é apenas o direito do outro sendo exercido. E mesmo que não sejam atitudes proibidas — podem nos afetar.

 Sentir-se incomodado não é sinal de imaturidade. É sinal de humanidade, é natural.

  Quando o incômodo cresce, às vezes viramos juízes — mas os desarranjos podem começar quando buscamos culpados. Porque nem sempre há um vilão na história. Em muitos casos, o que existe é uma sobreposição de limites: o desconforto de um encontra o direito legítimo do outro.

  E, em outras vezes, o incômodo nem sequer tem origem humana. É o calor que invade o apartamento ou uma chuva que atrasa os planos. A vida pode trazer desconfortos que não têm solução — só acolhimento possível.

 E isso exige de nós um tipo raro de maturidade: a de tolerar o que não pode ser mudado, como quem aprende a conviver com uma doença crônica. Não é agradável. Mas é possível.

   Isso não significa que precisamos silenciar o incômodo. Expressar desconfortos, quando feito com respeito, pode abrir espaço para escuta, reflexão e até mudanças futuras. 

    Em uma comunidade, precisamos aprender a lidar até com aquilo que não escolhemos. Sempre haverá encontros, desencontros e zonas de atrito. E alguns incômodos continuarão mesmo depois do desabafo, mesmo dentro das regras, mesmo sem solução clara.

 A vida adulta nos pede esse equilíbrio: reconhecer que há desconfortos inevitáveis — e que conviver também é aceitar o que não depende só de nós.

 Nem todo incômodo é curável, mas com paciência, estratégia e alguma dose de generosidade podemos tolerá-los.

 Que cada um cuide do seu espaço com consciência — e que todos possamos exercitar também a arte de tolerar.

Afinal, viver com os outros é isso: aceitar que, às vezes, o melhor remédio não é mudar o mundo, mas cuidar da forma como lidamos com ele.


Autora: Carol Brazil

FOLHA DA CAPIVARA Edição nº 12/3 Julho 2025

Esta folha é uma iniciativa independente, sem vínculos comerciais, religiosos ou políticos.

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Para comentários, sugestões ou contato: capivara@carolbrazil.com

 
 
 

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