Quando o direito do outro me incomoda
- Carol Brazil

- 29 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de set.
Reflexões sobre incômodos legítimos e a arte de conviver
Às vezes, o que nos incomoda está dentro do direito do outro: um bebê que chora à noite; um vizinho que canta desafinado no banho; um cheiro forte de tempero vindo do apartamento abaixo...
Nem sempre o que incomoda é um erro. Às vezes, é apenas o direito do outro sendo exercido. E mesmo que não sejam atitudes proibidas — podem nos afetar.
Sentir-se incomodado não é sinal de imaturidade. É sinal de humanidade, é natural.
Quando o incômodo cresce, às vezes viramos juízes — mas os desarranjos podem começar quando buscamos culpados. Porque nem sempre há um vilão na história. Em muitos casos, o que existe é uma sobreposição de limites: o desconforto de um encontra o direito legítimo do outro.
E, em outras vezes, o incômodo nem sequer tem origem humana. É o calor que invade o apartamento ou uma chuva que atrasa os planos. A vida pode trazer desconfortos que não têm solução — só acolhimento possível.
E isso exige de nós um tipo raro de maturidade: a de tolerar o que não pode ser mudado, como quem aprende a conviver com uma doença crônica. Não é agradável. Mas é possível.
Isso não significa que precisamos silenciar o incômodo. Expressar desconfortos, quando feito com respeito, pode abrir espaço para escuta, reflexão e até mudanças futuras.
Em uma comunidade, precisamos aprender a lidar até com aquilo que não escolhemos. Sempre haverá encontros, desencontros e zonas de atrito. E alguns incômodos continuarão mesmo depois do desabafo, mesmo dentro das regras, mesmo sem solução clara.
A vida adulta nos pede esse equilíbrio: reconhecer que há desconfortos inevitáveis — e que conviver também é aceitar o que não depende só de nós.
Nem todo incômodo é curável, mas com paciência, estratégia e alguma dose de generosidade podemos tolerá-los.
Que cada um cuide do seu espaço com consciência — e que todos possamos exercitar também a arte de tolerar.
Afinal, viver com os outros é isso: aceitar que, às vezes, o melhor remédio não é mudar o mundo, mas cuidar da forma como lidamos com ele.
Autora: Carol Brazil
FOLHA DA CAPIVARA
Edição nº 12/3
Julho 2025
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