Especial "Folha da Capivarinha": Quando a raiva vem...
- Carol Brazil

- 7 de set.
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de set.
Quando a Carol era criança...
Sempre que ela sentia raiva, alguém dizia:
“silêncio!” ou “entupa!”.
Ela teve que aprender a esconder o que sentia — como se sentir raiva fosse algo feio ou errado.
Com o tempo, percebeu que os adultos ao seu redor não sabiam lidar com a raiva dela... porque também nem sabiam lidar com a própria raiva deles. Eles não tinham aprendido. Agora, Carol quer conversar com outras pessoas sobre isso. E se existissem formas melhores e mais respeitosas de acolher a raiva?
Sem precisar machucar ninguém. Sem precisar se calar.
O que é a raiva?
A raiva é uma emoção forte que aparece quando algo incomoda, frustra ou parece injusto. Às vezes, vem porque ouvimos um “não”. Outras vezes, porque alguém foi grosso. Às vezes, nem sabemos direito o motivo — só sentimos aquele calor no corpo, aquela vontade de gritar, bater o pé ou sair correndo. Quando somos crianças, ainda estamos aprendendo a entender o que é justo ou não. Mas mesmo quando a raiva se confunde ou exagera, ela ainda é real. E merece atenção.
💡 A raiva não precisa estar certa para ser legítima.
Para que serve a raiva?
Às vezes ela não serve para nada e a gente precisa só encontrar um jeito de ir se acalmando. Mas às vezes a raiva pode nos proteger. Ela é como um alarme que diz: “Ei, isso me fez mal!”.
Ela pode ajudar a dizer:
– “Isso não está certo para mim.”
– “Não gostei do que aconteceu.”
Mas sentir raiva não dá permissão para gritar, bater, xingar ou machucar.
✨ Você pode sentir raiva sem agir com violência. Nenhum tipo de violência é legal — nem com o corpo, nem com palavras, nem com olhares que ferem. O que podemos fazer com a raiva?
Podemos conversar com um adulto de confiança — alguém que esteja calmo e possa nos ajudar a entender de onde veio essa raiva. Se foi mesmo algo injusto, será que podemos fazer algo para evitar que isso se repita?Mas, se foi apenas um limite que a gente não gostou, ou um “não” que não queríamos escutar, será que é possível ouvir com mais calma?
Nem tudo que nos incomoda é injustiça. Às vezes é só parte da vida — e tudo bem se a gente precisar de tempo para aceitar.
Se a raiva continuar depois disso, você pode pensar, junto com o seu adulto responsável, em rituais seguros para liberar essa emoção sem machucar ninguém.
Algumas ideias para vocês pensarem juntos:
– Rasgar papéis velhos / Amassar jornal
– Desenhar com as “cores da raiva”
– Fazer careta no espelho
– Respirar bem fundo e, quando o ar sai, imaginar a raiva saindo também
– Pensar em outras ideias que façam sentido para vocês
Não é para fingir que a raiva não existe. É para deixar ela sair com respeito.
Por que aprender isso agora?
Se a gente aprende, desde cedo, a reconhecer e cuidar da raiva, fica mais fácil — agora e no futuro:
– Se acalmar quando algo irrita
– Se colocar sem machucar ninguém
– Crescer com mais segurança, respeito e firmeza
✏ Desafio da Capivarinha
No verso desta folha, tem uma capivarinha com raiva.
Enquanto você pinta, pense: o que te deixa com raiva às vezes? E o que você pode fazer com essa raiva, sem machucar ninguém? Se quiser, escreva ou desenhe abaixo: “Quando fico com raiva, eu posso…”
Autora: Carol Brazil
FOLHA DA CAPIVARINHA
Edição Infantojuvenil nº 05/3 Setembro de 2025
Esta folha é uma iniciativa independente, sem vínculos comerciais, religiosos ou políticos.
Contato: capivara@carolbrazil.com
(verso)

(carta-anexo aos adultos responsáveis)
Querido/a(s) responsável(is),
Escrevo essa carta aos adultos, como um complemento e anexo à edição 5 da Folha da Capivarinha – feita para crianças e pré-adolescentes, sobre "quando a raiva vem...".
Queria, antes de tudo, fazer uma pergunta retórica: como você tem conseguido lidar com a sua raiva? E com a da(s) criança(s) sob seus cuidados?
Talvez você esteja ainda reproduzindo padrões repressores que aprendeu na sua infância.
Talvez esteja tentando fazer o oposto (e então, talvez, sendo permissivo demais).
Talvez você esteja já com um bom equilíbrio sobre o assunto.
Em todo caso, gostaria de refletir com você sobre como é importante saber lidar com a nossa própria raiva (mesmo que você tenha aprendido “errado” antes) — e também sobre como estreitar o vínculo com as crianças às quais somos responsáveis, sem ter medo de perder a autoridade.
Permitir que a criança expresse sua raiva não significa deixar que ela faça o que quiser.
Também não significa que você tenha que aprovar tudo o que ela sente ou diz com raiva.
Significa conduzir o processo. Estar ali com consciência, mesmo quando é difícil.
Com o quanto você conseguir de paciência, firmeza e escuta.
(E quanto mais você treinar, melhor nisso vai ficar).
A criança não nasce sabendo o que fazer com as próprias emoções.
E às vezes a gente chega na fase adulta ainda sem saber.
Mas não é tarde para aprender.
Os benefícios disso, a longo prazo, para o adulto cuidador, são a construção e manutenção de um vínculo forte e saudável com sua(s) criança(s). E, para a(s) criança(s), outro grande benefício é a facilitação de crescer se tornando alguém que sabe reconhecer a própria raiva, sabe o que fazer com ela — e, sobretudo, sabe identificar uma injustiça e se defender com assertividade das violências inevitáveis da vida.
Com afeto,
Carol Brazil
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